Conversa com Ana Fontes, da RME: o que é empreendedorismo social?
Já reparou que, por muito tempo, as empresas dos mais diferentes tamanhos e segmentos se concentravam só nos seus resultados financeiros? Lógico que esse é um tema importante, mas as mudanças no comportamento da sociedade também são vistas nas atividades empresariais. E é por isso que alguns conceitos estão em alta. O empreendedorismo social é um dos grandes exemplos de uma ampliação da mentalidade empreendedora.
Nesse universo, o objetivo principal é criar negócios que não foquem apenas o lucro ao final de cada mês. Conseguir estimular mudanças estruturais e gerar bem-estar social, criando benefícios pra comunidade, é o que se pretende alcançar. Isso pode ser feito a partir de iniciativas sustentáveis e até mesmo criando redes de empoderamento, como no caso das mulheres.
O assunto é tão interessante que convidamos alguém tão interessante quanto pra nos contar mais a respeito. Batemos um papo com Ana Fontes, fundadora e presidente da Rede Mulher Empreendedora (RME) e considerada uma das vinte mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes.
Vamos com a gente?
O que é o empreendedorismo social?
O empreendedorismo social é voltado para o mercado, como qualquer outro negócio, também mirando o lucro, mas com uma diferença significativa: tem o objetivo também de causar impactos positivos na sociedade. Ou seja, criar soluções, produtos e serviços que ajudem a mudar um cenário negativo. Seja pra reduzir a poluição em uma região, seja pra garantir acesso aos tratamentos mais básicos de saúde, de educação ou mesmo de investimentos.
Por mais que os resultados financeiros sejam importantes pra quem pratica o empreendedorismo social, a ideia é colocar o dinheiro de modo circular no mercado, principalmente a partir de mais investimentos. Muitas empresas, então, criam projetos específicos, que agreguem um valor positivo ao mercado e à comunidade.
Não à toa, o empreendedorismo social tem crescido no mundo todo. De acordo com dados da Fundação Schwab, em vinte anos, foram mais de 6 bilhões de dólares distribuídos em soluções ligadas ao empreendedorismo social. Só no Brasil, segundo pesquisa do Sebrae em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), são mais de 800 negócios que geram impactos sociais positivos no nosso país.
Como o empreendedorismo social ajuda a criar redes de empoderamento de mulheres?
Um exemplo de empreendedorismo social de sucesso é o da Rede Mulher Empreendedora (RME). O projeto foi criado pela nossa entrevistada, Ana Fontes. Ela começou com um blog simples pra ajudar outras mulheres a atingirem seus objetivos financeiros por meio do empreendedorismo. A ideia cresceu tanto que se tornou um negócio consolidado e, desde 2017, tem um braço social: o Instituto RME.
A ideia é justamente fornecer a capacitação e o suporte necessários pra que mulheres que vivam à margem da sociedade consigam criar os seus negócios, seja pra conquistar uma renda extra, seja pra sustentar a família. Ana Fontes lembra como tudo começou com uma ideia bem simples.
Ana Fontes — Rede Mulher Empreendedora
"Eu entendia de comunicação e chamei uma amiga que entendia de finanças, outra de vendas e cada uma foi escrevendo no blog dentro da sua linguagem. A ideia foi crescendo, uma mulher contava pra a outra e a rede aumentava. O mais legal era que eu fazia com o que eu sentia na pele, não era o que eu escutava de outras pessoas."
Ana ainda destaca a mentalidade fundamental pra que o empreendedorismo social tenha sucesso.
"Pra mim, ter um negócio que gera um impacto na vida de outras pessoas é o que me move diariamente. Empreender não é uma corrida de curta distância. Mas quando se tem na ponta o objetivo que é ajudar uma causa, isso nos dá uma motivação a mais. Por isso, acho que faz sentido todo o trabalho que a gente desenvolve. Eu adoro os reconhecimentos que recebo, mas, pra mim, o que mais toca são as mulheres mandando mensagem e dizendo o que mudou pra elas."
Um dos principais benefícios do empreendedorismo social realizado por Ana é justamente o empoderamento das mulheres. Uma causa fundamental, já que são elas as mais impactadas em períodos de crise.
"Quando vemos o que aconteceu agora, na pandemia, a gente entende de maneira clara como é importante continuar lutando pelos direitos. No menor chacoalho, as mulheres são as primeiras a perderem os direitos. As mães foram as mais afetadas na pandemia. Dos pequenos negócios mais impactados, 60% eram de atividades muito comumente realizadas por mulheres, como na área de moda, beleza, alimentação fora de casa, serviços e estética. O volume de violência doméstica também aumentou muito nesse período."
A iniciativa da RME é um exemplo de ações que podem mudar a vida de muitas pessoas, já que, com esse suporte, alguns ganhos são significativos.
Quer entender melhor? Então veja agora uma lista cheia de bons motivos!
A mulher vira dona da sua própria história
A liberdade financeira é um dos grandes ganhos com o empoderamento das mulheres. E isso acontece quando elas recebem o suporte, a orientação e a capacitação pra, por exemplo, começarem um negócio próprio. Nos mais diferentes segmentos e atividades, a mulher pode se tornar dona da sua própria história, sem depender de ninguém.
A mulher tem maiores chances de acabar com a violência doméstica
Apenas em 2020, foram mais de 100 mil denúncias de violência doméstica no Brasil. O empreendedorismo social contribui pra redução desse problema de muitas formas. Primeiro, a mulher ganha o suporte de outras pessoas pra lidar com uma situação bastante complexa e, além disso, consegue encontrar formas de conquistar liberdade financeira pra tomar as decisões que julgar melhor pra ela e a sua família.
A mulher reinveste em sua própria família
Muitos dos ganhos conquistados por mulheres empreendedoras são diretamente reinvestidos em sua própria família. O que significa uma maior liberdade não só pra ela, mas proporcionando ganhos pra toda a estrutura familiar.
Qual é a importância da valorização da mulher no mercado de trabalho?
Ana reforça que o cenário do empreendedorismo social ainda é muito recente no Brasil, mas a mudança já tem surtido efeito, principalmente no dia a dia de muitas mulheres no país.
"O empreendedorismo social é uma ferramenta muito importante e, com tecnologias sociais, pode fazer a transformação da nossa sociedade. Hoje, vemos uma maioria de mulheres no empreendedorismo social. E o dinheiro não é a primeira resposta. Vem sempre o propósito, e isso tem uma relação visceral com o que a mulher tem de visão da sociedade, que é mais humana e de mais impacto."
Valorizar a mulher no mercado, no olhar da Ana, significa fortalecer ainda mais os principais conceitos do empreendedorismo social. Olha só o que ela diz:
"Eu acho que as mulheres têm características muito específicas, uma das que acho mais bacana é que temos uma 'cabeça de solução'. A gente vê o problema e olha pra entender como resolver. O otimismo não necessariamente é uma característica só feminina. Mas as mulheres são focadas em propósitos e mantêm uma visão humana do mundo."
Todo esse debate acontece em uma época em que o empreendedorismo social é parte cada vez mais presente da sociedade. Hoje, não basta apenas uma empresa se diferenciar pelo preço mais em conta ou pela maior qualidade de produtos e serviços.
Entender o impacto de um negócio no espaço ao seu redor e encontrar formas de proporcionar melhorias à comunidade é uma tendência que chegou pra ficar. Não apenas pelo resultado positivo na reputação, mas também pelas possibilidades de resultados que a diversidade e o respeito oferecem para as próprias empresas.
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